{ads}

O Blog de uma postagem ! MENDONÇA NETO - A voz que não se cala

Leia outros artigos :

 Mendonça Neto

O destino não quis que o jornalista Mendonça Neto  continuasse diariamente  a brindar a todos em seu blog pessoal  com as suas   crônicas da vida real do povo sofrido  Alagoano .Ontem ,após vários meses lutando contra um câncer renal, perdeu a batalha  .Em seu blog que estava  em construção  há somente  uma postagem com o título :

A TRAGÉDIA DAS CHUVAS E O DURO OFÍCIO DE VIVER EM ALAGOAS





Já se disse, muitas vezes, que Deus é brasileiro. Isto porque fomos poupados dos grandes desastres da natureza como os ciclones, os tornados e os vulcões.

A fúria das águas, porem, nesta Alagoas que se diz na propaganda “O paraíso das águas”, instalou o inferno na vida de milhares de alagoanos empilhados nos telhados, nas árvores, com o olhar petrificado diante da devastação que destruía suas vidas obrigando-os a recomeçar de novo, do zero, para reconstruir, ao menos, uma pobreza digna.

Se não faltou a solidariedade dos que tem um mínimo de sensibilidade, já os olhos grandes dos políticos do Mundaú e do Parnaíba lambem os beiços e esfregam as mãos, com a notícia de que o governo federal irá investir 200 milhões de reais na reconstrução das cidades destruídas.

Veja-se que a natureza não agiu sozinha na catástrofe: os sucessivos prefeitos que “governaram” União dos Palmares, Murici, Rio Largo, Branquinha, sabiam que o sistema de contenção das águas pluviais era precário e incapaz de deter as enxurradas. No entanto, em nenhuma destas cidades aplicaram-se recursos públicos para fortalecer as barragens nas cabeceiras dos rios Mundaú e Paraíba, enquanto a maioria destes cidadãos foi denunciada e processada por desvio de dinheiro publico.
A nossa tragédia, e mais precisamente a tragédia dos pobres, é viverem o duro ofício da vida diante de prefeitos e governantes que não cumprem o seu dever de governar bem. Fiquei com os olhos grudados na tela da TV que exibia uma árvore de copa imensa que salvou a vida de mais de 30 alagoanos. Ela balançava resistindo ao vento e as águas que lambiam suas raízes e tentavam subir para alcançar aqueles homens e mulheres aflitos, de águas que eram amigas e que se tornaram na mais desumana das inimigas.

Esta tragédia anunciada é a mesma que se pode prever em Palmeira dos Índios onde algumas barragens, mal construídas, podem romper-se a qualquer momento, aumentando o raio de destruição que nossos dirigentes assistem incapazes de reagir.

A miséria e a tragédia de Alagoas começam na questão ética com a formação de quadrilhas que se lançam na política para enriquecer as custas dos desvios de recursos que serviriam para serem investidos no saneamento básico, no escoamento das águas de chuva, isto que nunca é feito e que se arrasta há dezenas de anos e de administrações irresponsáveis.

Veja-se, por outro lado que o mais humilde dos alagoanos paga a carga tributária mais cara do mundo, um cidadão que vive, ou vivia em barracos, é assaltado pelo ICMS quando compra seja lá o que for, com a parcela da mais valia indo para o bolso do governo, cerca de até 50% do valor de face dos produtos, o que é um absurdo e uma desumanidade revoltante.

O que dizer da lavoura canavieira que foi arrasada pelas usinas alagoanas, arrendando as maiores e sufocando as menores propriedades a pagar jamais o preço de mercado, mas o que “eles acham” que devem pagar. Um plantador de cana de 30.000 toneladas, dos poucos que ainda restam é tratado de uma forma, e os pequenos de 1000 ou 2000 toneladas transformaram-se em escravos das usinas, neste capitalismo globalizado, onde o pobre é explorado e o rico declara que “são as leis” do mercado.

Todas as atividades privatizadas passaram a ter lucros maiores porque os novos donos não admitem serem roubados como se rouba nas empresas publicas, que superlotam os cofres de políticos sem escrúpulos e inviabilizam a presença do Estado na produção que deveria garantir a soberania do país.

Exemplo: A Vale do Rio Doce, que nas mãos dos políticos dava prejuízo, hoje é a maior mineradora do mundo, enquanto os trabalhadores recebem salários vis, só melhores do que os indianos que costuram os fabulosos tênis de marca e de grife, trabalhando dia e noite para receber 200 reais mensais pelo seu trabalho.

Cheguei na semana passada as Alagoas e elas doem diante dos meus olhos e da minha vida que, desde 1974 dedico-me a denúncia da exploração da miséria do povo e das propostas para que tenhamos um mínimo dos mínimos de valores de vida para suas crianças que merecem a oportunidade de um futuro em que não sejam condenadas a morrer de fome, de desemprego e destas tragédias anunciadas, que devastam vidas, sonhos e dignidade.

É preciso consciência. Muita consciência e muito mais ainda para formação de uma classe política honesta e acima de qualquer suspeita de desvio de conduta.

Há quem diga que eu sou um sonhador, e, na verdade eu o sou. E o maior destes sonhos é que todos os alagoanos sonhássemos juntos na edificação de um tempo onde o ser humano não seja tratado como animal e que o fruto dos impostos que são pagos pelos cidadãos sejam aplicados para os cidadãos.

John Lenon escreveu uma canção em que ele diz “eles dizem que sou um sonhador, mas quem não é?” e o meu sonho é que surja um dia um mundo em que todos possam viver em paz, não a paz dos cemitérios onde estão sendo enterrados nossos mortos da tragédia das águas, mas a paz de saúde para todos, de trabalho digno para todos, para que os mais humildes e desprotegidos dos homens, mulheres e crianças possam enfrentar o duro oficio de viver com um mínimo de possibilidade de vencer e não serem condenados, perpetuamente ao sofrimento e a infelicidade.


Aproveitem  para visitar o Blog aqui

Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo administrador.