{ads}

O preço das mortes : Deputado federal - No mínimo R$ 100 mil

Leia outros artigos :

Chapéu de Couro é o pistoleiro mais conhecido de Alagoas



O assassinato da deputada Ceci Cunha, em Maceió, no dia 16 de dezembro, trouxe de volta à história policial de Alagoas um homem que mal sabe assinar o nome e passou 30 anos fugindo da polícia. Trata-se de um dos mais conhecidos pistoleiros vivos da região. Chama-se Maurício Gomes Novaes, o Chapéu de Couro. 

Não se sabe ao certo quantas pessoas já morreram pelas mãos ou pelo intermédio deste homem de 58 anos, calvo, que erra na gramática e diz ser caminhoneiro. O próprio Chapéu de Couroafirma que "há 20, 30 anos" matou gente, e que não foi "nem um, nem dois". Não é de motorista, no entanto, sua atividade mais recente. O pistoleiro está envolvido em alguns dos maiores roubos de carga de Alagoas. Mas a Justiça não conseguiu levá-lo para a cadeia. 

A volta de Chapéu de Couro - que virou testemunha e não acusado no caso Ceci Cunha - fez lembrar outra figura lendária do Nordeste, o matador Floro Novaes, irmão mais velho do pistoleiro. Quando Floro foi assassinado, em 1976, Chapéu de Couro já exercia o ofício de matar sem deixar rastro. Como o personagem Antônio das Mortes, vivido por Maurício do Valle no filme Deus e o diabo na terra do sol, Maurício Novaes usava um chapéu de couro, que lhe rendeu o apelido. O matador criado por Glauber Rocha ganhava dinheiro para assassinar sob encomenda. Antônio das Mortes perseguia cangaceiros e não sossegou enquanto não eliminou Corisco. Chapéu de Couro, com a morte de Floro, também passou a ser procurado para eliminar inimigos de fazendeiros e políticos. Oito crimes dos quais o pistoleiro viraram processos. Seis estão prescritos. 

A morte de Ceci Cunha reforça a constatação de que não tem medida a ousadia dos crimes por encomenda. Envolvem gente rica, matadores e tabelas de preços para execuções. Em Alagoas, é o desafio número um da polícia e da Justiça. 

Preço - No caso de deputados federais, os pistoleiros cobram mais de R$ 100 mil para assassiná-los. Chapéu de Couro, um dos acusadores do suplente de deputado Talvane Albuquerque no caso Ceci Cunha, garantiu à polícia que recebeu a proposta de matar o deputado federal Augusto Farias por R$ 200 mil. Para juízes, o preço tem muitas outras variáveis. Se várias pessoas estiverem interessadas na morte, por exemplo, podem se cotizar e o preço da morte aumenta. Mas é para matar políticos, que os pistoleiros cobram mais caro. 

"Pelo que vemos, os pistoleiros têm suas áreas de atuação. Tanto que não há muitas mortes entre eles, como queima de arquivo. Eles fazem uma tabela de preços. Dependendo do tipo de contrato, o mandante monta toda a estratégia, inclusive para fuga. Outras vezes, o próprio grupo cuida de tudo", diz o superintendente. 

Segundo Bergson, o hábito de andar armado e rodeado por seguranças ainda é muito comum entre políticos e fazendeiros alagoanos. A grande dificuldade dos crimes como o que matou a deputada federal Ceci Cunha é provar o envolvimento dos mandantes. E até mesmo descobrir os pistoleiros, que ganham para dar tiros certeiros e não deixar pistas. 

Provas - "Nesses crimes, em geral até se sabe quem foi que mandou, mas o difícil é reunir provas. No caso dos políticos, o pior é que eles vivem no mando da imunidade parlamentar. A polícia enfrenta dificuldades, é uma guerra difícil", afirma Bergson. 

Os policiais que tentam desvendar crimes de pistoleiros contam que, em geral, esses criminosos começam a matar por vingança. Querem resolver algum problema pessoal e, daí, passam a agir profissionalmente. São "assalariados", no termo usado por polícia e bandido.



Depois de Chapéu de Couro, que já teve vários crimes prescritos, outro pistoleiro, conhecido como Cabo Cição, está na mira da polícia alagoana. Ex-policial militar, fazia parte de uma quadrilha que vivia de extorsões, assaltos e assassinatos e começou a ser desbaratada há três anos. Está solto e é considerado um dos criminosos mais perigosos do estado.


O preço das mortes


Vereador do interior - entre R$ 3 mil e R$ 5 mil


Prefeito do interior - entre R$ 10 mil e R$ 15 mil


Político ou empresário da capital - entre R$ 20 mil e R$ 25 mil


Deputado estadual - cerca de R$ 50 mil, se for morto no interior. Se for na capital, pode chegar a R$ 100 mil


Deputado federal - No mínimo R$ 100 mil


Fonte:Folha em 09/01/99 10h54 

Postar um comentário

1 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo administrador.