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Trabalho Escravo:“O problema mesmo são as condições precárias que estamos vivendo.”,diz Cubano do Mais Médicos

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Médico cubano denuncia condições precárias de moradia em Aparecida de Goiânia
Secretaria Municipal de Saúde garante que os 11 profissionais podem, desde dezembro de 2013, procurar uma nova localidade para residência com auxílio de até R$ 2.500
“Condições mínimas de moradia.” Esta é a reivindicação de um dos 11 médicos cubanos que atende em Aparecida de Goiânia pelo programa Mais Médicos. Em entrevista ao Jornal Opção Online no início da tarde desta sexta-feira (14/2), Ivan Antonio Borrell, de 40 anos, afirmou que ele e seus dez colegas de profissão cubanos estão alojados em um imóvel da Secretária Municipal de Saúde, onde nem a geladeira funciona. Os profissionais residem na cidade há três meses nessas condições.

De acordo com o coordenador estadual do Mais Médicos, Robson Parreira Braga, o programa do governo federal concede a mão de obra médica aos municípios, que, em contrapartida, têm a obrigação de manter os profissionais no que diz respeito à moradia, à alimentação e ao transporte. No entanto, Ivan Antonio sustenta que a realidade aparecidense não é bem essa. O cubano defende que em outras cidades a situação é bastante diferente. Segundo Ivan, o que foi acordado anteriormente não está sendo seguido pelo município.

“Antes, nos falaram que íamos morar em condições boas com um dinheiro para moradia e outro para alimentação. Quando chegamos em Aparecida nos ofereceram essa casa, que seria provisória, mas isso já faz três meses. Em alguns municípios, eles dão o dinheiro para os médicos, e com esse dinheiro, eles alugam sua casa, entre outras despesas, mas aqui é muito diferente”, argumenta. Segundo o médico, o município não previa a chegada de 11 cubanos pelo Mais Médicos. Ivan conta também que, ao desembarcarem na cidade, ele e seus colegas de profissão foram alocados primeiramente em outra residência onde a situação era ainda mais problemática.

Com oito quartos, o imóvel onde os profissionais estão atualmente alojados fica na região central de Aparecida, e, segundo Ivan, faltam condições mínimas de moradia. “Temos uma geladeira que não funciona há mais de um mês. Nós guardamos as carnes na casa de um amigo. A maioria dos quartos não tem guarda-roupa. Temos apenas um televisor, e parte das nossas roupas ainda estão em malas. Essas não são condições para se viver por três anos em um país.”

O coordenador estadual do programa Mais Médicos disse ao Jornal Opção Online que visitou recentemente o imóvel e avalia que “as condições não são tão precárias” como as descritas pelo médico cubano, mas reconhece que o local não é ideal para a residência de 11 indivíduos. De acordo com ele, o município de Aparecida de Goiânia aprovou recentemente uma lei que prevê ajuda financeira aos profissionais. “Vamos ver se até semana que vem a verba possa estar disponível aos médicos.”

No entanto, a coordenadora da Estratégia Saúde da Família (ESF) do município, Érika Rocha, garante que a lei em questão foi aprovada em dezembro de 2013. Segundo ela, desde esta data, os médicos podem procurar uma nova localidade para residência com um auxílio de até R$ 2.500. Érika explica também que o imóvel onde os cubanos estão alojados possui estrutura física adequada para receber os 11 médicos. “É um sobrado de dois andares e a maioria dorme sozinho”, explica. 

Aparecida de Goiânia é o município do Estado que possui o maior número de médicos estrangeiros do programa do governo federal Mais Médicos. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cidade acolheu, nos dois primeiros ciclos do programa, 38 profissionais, dos quais 14 são estrangeiros.

US$ 400

Acerca da polêmica que envolveu a médica cubana Ramona Matos Rodriguez, que abandonou o programa Mais Médicos no início deste mês, Ivan Antonio Borell afirma que nenhum profissional cubano em residência no Brasil pode alegar que foi enganado. “Eu não quero falar muito sobre isso, mas quando saímos de Cuba, nós conhecíamos o contrato. US$ 400 para nós, US$ 600 para Cuba. Nenhum cubano pode dizer que foi enganado.” A deserção de Ramona se deu após ela alegar ter descoberto que recebia US$ 400 enquanto o vencimento dos brasileiros para as mesmas funções é de R$ 10 mil por mês.

Questionado se a remuneração oferecida é suficiente para sobreviver em território brasileiro, o cubano avalia que o nível de vida no país é alto, e, por isso, existem dificuldades. No entanto, ele não condena o governo de Cuba pela divisão salarial. “É difícil entender, mas estamos formados em uma consciência de que o dinheiro que mandamos para o nosso país é para o desenvolvimento do sistema público cubano, e para melhorar o salário de todos os trabalhadores de lá.”

Ivan explica também que dos US$ 600 que são enviados ao governo cubano mensalmente, parte é destinada a sua família e, outra, é depositada em uma conta bancária. O beneficiário cubano terá acesso à verba apenas quando regressar ao país. Em Cuba, o médico deixou uma esposa e dois filhos, com quem fala via internet diariamente, e por telefone ao menos duas vezes na semana.

Recepção e convivência

Especialista em medicina comunitária, Ivan Antonio, que já trabalhou na Venezuela, na Bolívia e no Paquistão, afirma que foi muito bem recebido no Brasil, e em Aparecida de Goiânia. “Sempre foi uma preocupação como iríamos ser recebidos nas unidades básicas de saúde, mas tive sorte; sinto-me em uma família. Todas as pessoas que trabalham aqui me apoiaram desde o início”, sustenta.

Expressando-se com bastante desenvoltura, Ivan afirma que está melhorando seu português com o passar do tempo, e que a “barreira da língua” não se configura em um empecilho, pelo contrário. “O paciente me pede pra falar algo enrolado e eu falo. Nós rimos, eles riem. E isso melhora a relação entre médico e paciente”.

O médico garante que os dez cubanos que o acompanham em Aparecida também estão satisfeitos com o trabalho realizado em território brasileiro. Como ressalva Ivan reitera: “O problema mesmo são as condições precárias que estamos vivendo.”

Fonte:http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/medico-cubano-denuncia-condicoes-precarias-de-moradia-em-aparecida-de-goiania

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