{ads}

Agentes comunitários de saúde revelam o verdadeiro desastre com a COVID-19 no Brasil

Leia outros artigos :

ar covid
covid-19 - AR NEWS

Um comentário em The Lancet :  Agentes comunitários de saúde revelam o desastre do COVID-19 no Brasil .

ACSs no Brasil protestando por melhores direitos para trabalhadores da saúde e técnicos de vigilância em saúde em 2018 Ver imagem ampliada Copyright © 2020 Luana Furtado / ENSP / Fiocruz
ACSs no Brasil protestando por melhores direitos para trabalhadores da saúde e técnicos de vigilância em saúde em 2018 Copyright © 2020 Luana Furtado / ENSP / Fiocruz


O Brasil se tornou um dos epicentros da pandemia do COVID-19. O fracasso do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo em reconhecer a gravidade da pandemia está sendo agravada pela negligência com os agentes comunitários de saúde (ACS).


No Brasil, não houve diretrizes nacionais para os serviços de atenção primária à saúde na resposta ao COVID-19. Como os ACS no Brasil não são considerados profissionais de saúde, estima-se que apenas 9% tenham recebido treinamento em controle de infecções e equipamentos de proteção individual (EPI). Os sindicatos estimam que pelo menos 50 ACS morreram como resultado do COVID-19. É provável que o número seja amplamente subestimado, uma vez que as mortes de ACS não são registradas nas estatísticas oficiais do Brasil sobre mortalidade de trabalhadores em saúde. Além disso, os ACS enfrentaram ameaças e agressões em alguns territórios onde trabalham. Exortamos o governo brasileiro e a comunidade global de saúde a reconhecer e apoiar o papel dos ACS na resposta COVID-19 e a garantir sua saúde e segurança. Existem mais de 286 000 ACS no Brasil. Eles são a base do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil: prestam atendimento primário de saúde em seu território, fazem visitas domiciliares e estabelecem uma relação de confiança entre as comunidades e o sistema de saúde. O valor dos ACS decorre do conhecimento local e do contato diário com as famílias. Essa proximidade com as comunidades também é vital para a vigilância de surtos no nível do solo e a comunicação de riscos, como observado no surto da doença pelo vírus Zika. Apesar da posição dos ACS dentro das comunidades, eles não receberam orientações claras sobre seu papel na resposta ao COVID-19. Em março de 2020, o Ministério da Saúde publicou recomendações contraditórias, solicitando aos ACS que continuassem as visitas aos usuários do sistema de saúde e prestassem assistência aos infectados, mas sem entrar nas casas. Os ACS foram solicitados a usar EPI, mas nenhum EPI foi fornecido. A segurança no combate ao COVID-19 requer distância e isolamento, que é a antítese da atividade de ACS. O contato próximo que mantêm com as comunidades significa que os ACS estão em risco de infecção. Além de serem potencialmente vistos como vetores, os ACS também correm o risco de serem vistos como o rosto de políticas impopulares. Os profissionais de saúde enfrentaram hostilidade dos apoiadores de Bolsonaro que se opõem ao distanciamento físico. Em uma medida que poderia comprometer ainda mais a segurança deles, Bolsonaro pediu que seus seguidores "invadissem" hospitais e unidades de terapia intensiva para verificar a veracidade dos números do COVID-19. 

 Em alguns municípios, os ACS foram solicitados a trabalhar remotamente, usando telemedicina e redes sociais para manter contato com as famílias. Em outros municípios, eles foram encarregados de responsabilidades que vão além de seu trabalho rotineiro, como garantir que os regulamentos de distância física sejam respeitados nos espaços públicos. Os ACS com doenças crônicas foram instruídos a ficar em casa em alguns municípios, enquanto em outros foram instruídos a continuar realizando seu trabalho. Essas contradições e inconsistências não foram resolvidas, e o ministério da saúde ainda deve fornecer mais orientações sobre como a atenção primária à saúde deve ser reorganizada durante a pandemia. A resposta nacional é, na prática, guiada por desenvolvimentos no nível local, sem nenhuma aparência de coordenação central. 

  As reações do governo de Bolsonaro ao COVID-19 variaram de negação, tráfico de terapias não comprovadas e ataques a seus oponentes políticos e à OMS. 


O Brasil viu dois ministros da saúde deixarem seus cargos durante a pandemia e um apagão de dados destinado a encobrir o número de casos e a mortalidade. A situação com os ACS revela como a falta de liderança se traduz em respostas inadequadas em nível local ao COVID-19. Os ACS são, em muitos aspectos, o “canário na mina de carvão” do SUS. O baixo salário e as precárias condições de trabalho refletem as dificuldades de longo prazo dos recursos do sistema de saúde e a falta de compromisso político com a saúde como bem público. As condições de trabalho incertas dos ACS indicam a desordem do SUS diante da pandemia do COVID-19. O fracasso em preparar e proteger os ACS prejudica as medidas físicas de distanciamento, coloca-as em risco e contribui para a negligência de grupos marginalizados, incluindo os pobres, os idosos e os não alojados. À medida que a duração da crise aumenta, aumenta também o ônus de doenças crônicas e transmitidas por mosquitos, como a dengue e a doença do vírus Zika, que não recebem atenção suficiente na pandemia.

A posição atual dos ACS mostra toda a extensão do desastre de saúde pública no Brasil. ================================================== 







Postar um comentário

0 Comentários
* Por favor, não faça spam aqui. Todos os comentários são revisados ​​pelo administrador.