Introdução
Sabe-se que aproximadamente 10% dos
pacientes hospitalizados desenvolvem infecções em conseqüência de procedimentos
invasivos ou de terapia imunossupressora, e que o uso de antimicrobianos de
forma maciça e indiscriminada contribui para a multirresistência bacteriana.
Essas
infecções são comumente causadas por Estafilococos resistentes à metilicina,
Enterobactérias e Pseudomonas, podendo ocorrer também por Acinetobacter. A
identidade do organismo causador pode fornecer alguma indicação em relação à
sua fonte, todavia, certos patógenos têm significado especial porque podem
causar grandes surtos em todo hospital.
O uso dos
antimicrobianos de uma maneira maciça e indiscriminada exige medidas urgentes
para combater o surgimento de novas cepas bacterianas multirresistentes,
inclusive aos medicamentos antimicrobianos recentemente comercializados,
levando a conseqüências importantes, com efeitos diretos na problemática das infecções
hospitalares.
É
importante ressaltar que a racionalização de antimicrobianos, oferece a
oportunidade de determinar seu apropriado uso nos casos para os quais estão
indicados, e, assim identificar situações na qual seu uso seria impróprio.
As Unidades
de Terapia Intensiva (UTIs) são reservatórios freqüentes das bactérias
multirresistentes. A transmissão interpacientes é amplificada em UTIs, em
função da menor adesão à higienização das mãos, associada ao excesso de
trabalho.
Bacilos
Gram-Negativos Multirresistentes
São o
principal problema em UTIs brasileiras, em função das altas taxas de
resistência de antimicrobianos de última geração disponíveis.
Meios de
transmissão dos bacilos Gram-negativos:
• Contato
direto, através das mãos dos profissionais de saúde;
• Contato
indireto, através de artigos contaminados;
Bacilos
Gram-negativos não-fermentadores de glicose
São agentes
de quase todas as infecções adquiridas na UTI - em particular, infecções do
trato respiratório. São representados, principalmente, por cepas de Pseudomonas
aeruginosa e Acinetobacter spp. Sua sobrevivência em água e outros
ambientes com requisição de nutrientes favorecem sua presença no trato
respiratório - por colonizarem coleções de água relacionadas ao aparato de
ventilação mecânica.
Acinetobacter - Este gênero é composto por
cocobacilos gram-negativos não fermentadores, imóveis (daí o nome a-cineto),
oxidase negativos.
São bactérias de vida livre, geralmente encapsuladas, amplamente distribuídas na natureza, podendo ser isoladas em objetos inanimados e animados, presentes em praticamente 100% de amostras de solo e água, transmitidos pelo contato direto e indireto com estas fontes e possivelmente por via aérea .
Este é o mais freqüente gênero de bactérias gram-negativas isoladas colonizando persistentemente a pele humana, principalmente em dobras, sendo que o A. johnsonii, A. lwoffi e A. radioresistans são habitantes naturais. O complexo A. calcoaceticus/A. baumannii é encontrado na pele em até 25% das pessoas sadias e na cavidade oral em até 7% destas, aumentando em pacientes hospitalizados e profissionais de saúde. Assumem importância crescente no ambiente hospitalar, sobrevivendo em superfícies úmidas ou secas e colonizando a pele de pacientes e da própria equipe de saúde, principalmente suas mãos, ocasionando contaminação cruzada. Sua capacidade de sobrevivência no ambiente é grande, por exemplo, em uma bancada uma colônia sobrevive por até nove dias contra menos de um dia observada para P. aeruginosa . A espécie mais freqüentemente encontrada em hospitais é o complexo A. calcoaceticus/A. baumannii, isolados em infecções nos tratos respiratório, urinário, ferida cirúrgica e acesso vascular, podendo levar a quadros septicêmicos, mas pode causar infecções em virtualmente todos os órgãos. A letalidade chega a ser superior a 36%.
Muitas UTIs
brasileiras convivem atualmente com cepas de pseudomonas e acinetobacter
resistentes a todos os antimicrobianos disponíveis, representando um alto custo
no tratamento dos pacientes infectados.
Os
principais mecanismos de resistência estão relacionados à produção de enzimas –
em particular as beta-lactamases, que conferem resistência à cefalosporinas e
penicilinas de amplo espectro. Um sub-grupo particular de beta-lactamases, as
metalo-beta-lactamases, produzidas principalmente por pseudomonas e acinetobacter
conferem resistência aos carbapenens (imipenem e meropenem), os
quais constituem as principais armas para o tratamento de Gram negativos
multirresistentes.
Outros
mecanismos de resistência estão associados à perda de porinas da parede
bacteriana, mecanismo de efluxo a partir do ambiente intracelular e modificação
do sítio de ligação dos antibióticos. Felizmente, as taxas de resistência à
polimixina são muito baixas (< 5%) – único antimicrobiano disponível para
esta situação. Os problemas relacionados ao uso de polimixina estão na
toxicidade (nefrotoxicidade, principalmente), no pouco conhecimento sobre
aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos e na pouca disponibilidade do
medicamento no mercado brasileiro.
Medidas recomendadas para prevenção das
Bactérias Multirresistentes:
• Identificar precocemente o paciente
colonizado ou com infecção;
• Manter o paciente em isolamento;
• Respeitar as medidas de isolamento
de contato preconizadas pela SCIH;
Precauções de Contato
Indicações
Infecção (ou suspeita de infecção) ou
colonização por bactérias multirresistentes ou microrganismos
epidemiologicamente importantes (como rotavírus, vírus sincicial respiratório,
herpes simples localizado, diarréia aguda, furunculose, infecção de ferida
operatória, escabiose, pediculose), passíveis de transmissão por contato
direto.
Internação de paciente: quando possível, em quarto privativo
ou em quarto com paciente que apresente infecção pelo mesmo microrganismo
(coorte).
A distância mínima entre as camas deve
seguir as orientações da vigilância sanitária e das entidades de classe e
critérios técnicos determinados para o isolamento.
Todos os portadores deverão ter o
prontuário visivelmente identificados, com informações objetivas e claras sobre
a colonização/infecção e as respectivas medidas de precaução.
Profissionais: o número mínimo de profissionais, por
turno de trabalho, deve atender as determinações da vigilância sanitária local,
obedecendo as orientações dos respectivos conselhos de classe e das comissões
de infecção, para a situação específica.
Os profissionais da limpeza,
previamente treinados, deverão ser devidamente instruídos quanto às medidas de
precaução. O Brasil adota diagnóstico seguindo os critérios NISS.
Higienização das mãos: deve ser enfatizada a importância
desta ação; utilizar anti-séptico como o álcool-gel ou soluções degermantes
(clorexidina a 2% ou PVP-I 10%).
A higienização das mãos é uma
precaução fundamental!!
Devem ser higienizadas após cada troca
de luvas e seguindo as orientações técnicas da Anvisa com álcool 70% gel ou
anti-séptico degermante.
Luvas: todas as pessoas que tiverem contato
com o paciente devem usar luvas de procedimento limpas, não estéreis, ao entrar
no quarto durante o atendimento ao paciente; trocar de luvas após contato com
material biológico; retirar as luvas antes de deixar quarto.
Avental: usar avental limpo - não
necessariamente estéril - ao entrar no quarto durante o atendimento ao paciente
e retirá-lo antes de deixar o quarto, obedecendo à técnica.
Jamais transitar com o
avental para outra unidade!
Equipamentos de cuidado ao paciente:
estetoscópio, esfignomanômetro e termômetro devem ser de uso individual. Caso
não seja possível, devem ser limpos e desinfetados com álcool a 70%, entre
pacientes.
Ambiente: itens com os quais o paciente teve
contato e superfícies ambientais devem ser submetidos à desinfecção com álcool
a 70% (ou produto compatível com a natureza da superfície), a cada plantão.
As medidas de transporte de qualquer
tecido (roupa de cama, roupa do paciente e outro) até a lavanderia deverão se
realizadas seguindo protocolo específico da CCIH, sob orientação da vigilância
sanitária local.
Visitante e Acompanhante: Visita restrita e reduzida.
Deverão, obrigatoriamente, ser instruídos verbalmente e por escrito com
recomendações expressas quanto à restrição de locomoção sua e do paciente,
higienização de mãos e limpeza de todos os objetos e pertences pessoais do
portador. Utilizar a mesma paramentação indicada para os profissionais de
saúde;
A adoção das instruções, por parte dos
visitantes e acompanhantes, deverá ser supervisionada pela equipe de saúde.
Transporte do paciente: Limitado. Evitar o deslocamento do
paciente para outras áreas da instituição. Quando for indispensável, as
precauções deverão ser cumpridas em todo o trajeto a ser percorrido, incluindo
o elevador. Este deverá ser, no momento do uso, destinado exclusivamente ao
transporte do paciente, não sendo admitida a presença de outros pacientes no
mesmo elevador. Utilizar luvas para auxiliar na locomoção, mas com o cuidado de
não tocar em superfícies com as mãos calçadas.
Nota: No caso das unidades de UTI neonatal,
a desinfecção das incubadoras deve ser realizada com água e sabão e solução
de quartenário de amônio.
Nota: É recomendável que o paciente infectado/colonizado
somente deixe o isolamento após cultura (s) negativa(s) ou ao deixar o
hospital.
As macas, cadeiras e outros
utilizados, assim como os locais onde o paciente teve contato devem ser
desinfetados com solução alcoólica 70% ou conforme a recomendação do fabricante
para os materiais.
Objetos e superfície: os equipamentos (estetoscópio,
termômetro, torniquetes, nebulizadores, umidificadores, circuito de respirador
e outros) devem ser desinfetados com álcool 70% antes e após o uso. Pela
impossibilidade de desinfecção, o manguito do aparelho de pressão não deve
entrar em contato com a pele do paciente, devendo ser protegido por um tecido limpo
e fino.
Todos os itens potencialmente
contaminados devem ser descontaminados diariamente ou desprezados.
Artigos contaminados com material
infectado devem ser rotulados, antes de enviados à descontaminação e
reprocessamento. Cuidado especial deverá ser tomado quantos aos objetos
concernentes ao serviço de nutrição e dietética.
Desinfetar superfícies planas com
hipoclorito de sódio a 0,2% ou álcool a 70%.
Os objetos de uso pessoal do paciente
devem ser de uso exclusivo e apenas no quarto do portador.
Nota: Após procedimento cirúrgico de
paciente conhecidamente infectado ou colonizado deve-se proceder à limpeza
terminal do bloco cirúrgico.
Outros: Na identificação do primeiro pacientes
infectado/colonizado por microrganismos transmitidos por contato direto ou
indireto, deverá ser
implantada a rotina de freqüência, padronizada pela CCIH, para a pesquisa de
colonizado na unidade acometida. Esse intervalo de monitoramento varia entre 5
e 7 dias.
Nota: A direção da instituição tem a
responsabilidade de disponibilizar recursos financeiros, técnicos e humanos em
quantidade e qualidade mínimos à viabilização para a adoção e aplicação
rigorosa das medidas de isolamento propostas pela CCIH, CMCIH, CECCIH de modo
complementar a este documento.
Referência Bibliográfica:
RENISS
–GIPEA/GGTES/ANVISA
Infección nosocomial por "Acinetobacter baumanii" multiresistente en Unidades de Cuidados Críticos: Enfermería integral: Revista científica del Colegio Oficial de A.T.S de Valencia, ISSN 0214-0128, Nº. 72, 2005 , pags. 15-22
Fernandes,Antonio
Tadeu. Infecção Hospitalar e suas Interfaces na Área da Saúde. São
Paulo:Editora Atheneu, 2000
Portaria nº
2.616 de 12 de maio de 1998 do Ministério da Saúde D.O.U.
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE
CENTRO ESTADUAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
DIVISÃO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA