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Conceição, Bresser e Lessa querem que o real seja desvalorizado


A desvalorização do real e a adoção de salvaguardas para defender a indústria do país da concorrência chinesa foram as medidas defendidas ontem pelo PT e seus aliados PDT, PSB e PC do B, via suas respectivas fundações de estudos e pesquisas, durante o seminário "A Crise do Capitalismo e o Desenvolvimento do Brasil", realizado no Rio de Janeiro.

A desvalorização do real foi proposta pelo menos por três dos mais importantes palestrantes, os economistas Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda (governo José Sarney) e da Administração (primeiro governo Fernando Henrique Cardoso), Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES (primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva) e Maria da Conceição Tavares, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Conceição também defendeu a adoção de medidas protecionistas para defender a indústria da concorrência chinesa, no que foi seguida, no painel seguinte, pelo economista Ricardo Carneiro, professor da Universidade de Campinas (Unicamp). "Pode-se fazer por tarifas, subsídios, pode-se fazer por acordos com os países. Tem-se que fazer uma política agressiva com os chineses", disse Conceição, ressaltando que o Brasil só não pode é adotar nenhuma medida sem a prévia concordância dos seus parceiros do Mercosul para não correr risco de arranhar o encaminhamento da unidade na região.

"Estamos perdendo mercado na América do Sul mais rápido do que dentro do Brasil", disse Carneiro, fazendo eco com as propostas da economista. "É proteção cambial, tarifas... Não dá para ser pelo câmbio somente", completou, ressaltando que a simples desvalorização cambial vai acabar tendo impacto negativo sobre os salários.

Bresser Pereira, principal defensor da desvalorização cambial hoje no país, disse em rápida entrevista que já está comprovado em estudo que o efeito de uma desvalorização do real de 30% não seria tão deletéria assim sobre os salários. Segundo ele, os economistas José Luiz Oreiro e Nélson Marconi já demonstraram que para uma desvalorização de 30% as perdas salariais seriam de apenas 6%.

Bresser argumentou que a desvalorização, recuperando a competitividade da indústria, permitiria ao Brasil voltar a crescer, de forma consistente, a taxas de 5% a 6% ao ano. Nesse cenário, as perdas salariais seriam recuperadas, com sobras, em cerca de três anos. As perdas salariais e a aceleração inflacionária são os dois principais problemas vistos por Bresser no processo de desvalorização do real para cerca de R$ 2,40 por dólar.

"Depois da mudança vai ficar tudo azul, mas no processo há problemas", disse, ressaltando que os ganhos de competitividade para a economia compensam os percalços no caminho. "Passei anos procurando uma metáfora para explicar a importância do câmbio. Agora acho que encontrei: ele é um interruptor de luz que liga ou desliga as empresas tecnologicamente competentes da demanda mundial", explicou Bresser-Pereira, no evento.

Carlos Lessa disse que "o câmbio (desvalorizado) protege a indústria avançada da extinção", além de elevar a rentabilidade das commodities em real. Tanto ele como Bresser Pereira defenderam que, durante o processo de desvalorização da moeda brasileira, seria necessário também impor uma taxação sobre as exportações das commodities mais valorizadas.

Bresser mostrou que dessa forma os produtos não ficariam mais caros e os exportadores não perderiam nada, uma vez que a taxação, variável para cada produto, não ultrapassaria o limite do ganho obtido com a desvalorização cambial. Dessa forma, a desvalorização serviria apenas para aumentar a competitividade da indústria.

Os economistas disseram ainda que nada do que propuseram terá efeito se o governo não der continuidade à atual política de redução da taxa de juros básica que, na avaliação de Bresser, dever cair a um nível de 2% a 3% em termos reais.

Autor(es): Por Chico Santos e Diogo Martins | Do Rio
Valor Econômico - 29/11/2011

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