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Olavo Bilac e A Revolta da Vacina : ambição dos letrados,ferocidade dos vagabundos e a ingenuidade dos analfabetos

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Em "A revolta da vacina" Bilac trata da utilização dos ingênuos pelos baderneiros contra a obrigatoriedade de se tomar a vacina contra a febre amarela.(2)


O presidente Rodrigues Alves sanciona a Lei da Vacina Obrigatória (publicação não identificada, 5/11/1904; charge de Trakoff)


A Belle Époque carioca 

"A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim que levou a população à revolta, a qual eclodiu no dia 10 de novembro de 1904. Posteriormente, o governo suspende a obrigatoriedade da vacina. A imprensa da época registrou com frequência todo o evento, bem como seus desdobramentos posteriores. A crônica foi o gênero mais utilizado para a abordagem da revolta, o que de acordo com Margarida Neves, constitui um registro que nos revela “o tempo vivido.” (NEVES, 1995).


Vale ressaltar que as crônicas cariocas da Belle Époque foram o gênero literário que se impôs nesse período no Rio de Janeiro, tendo como veículo de difusão os jornais, sendo que estes discutem a relação entre o progresso e a tradição. O tal progresso almejado estava aliado à transformação urbana e era entendido como inexorável, ao passo que o conceito de tradição trazia em seu bojo um alerta à consciência nacional para a preservação dos monumentos do passado, da memória e do patrimônio cultural da cidade" (4)





Olavo Bilac
As arruaças deste mês, nascidas de uma tolice e prolongadas por várias causas, vieram mostrar que nós ainda não somos um povo. Amanhã, um especulador político irá, pelos becos e travessas, murmurar que o governo tenciona degolar todos dos católicos, ou fuzilar todos os protestantes, ou desterrar todos os homens altos... E a gente humilde aceitará como verdade, essa invenção imbecil, como aceitou a invenção da vacina com sangue de rato pestiferado... E pouco importa que em todas as esquinas se preguem editais aniquilando a calúnia, e pouco importa que todos os jornais destruam a infâmia em artigos, em notícias, em anúncios: a gente que não sabe ler continuará a crer no que lhe disseram e a sua revolta brutal e irresponsável continuará a servir de arma aos especuladores. No Rio de Janeiro, e em toda parte os analfabetos são legião. Quem não sabe ler, não vê, não raciocina, não vive; não é homem, é um instrumento passível e triste, que todos os espertos podem manejar sem receio. (Revista Kosmos, Nov. 1904).



"Olavo Bilac, nesta crônica cotidiana, mostra um povo sem o domínio da leitura e da escrita, caracterizando-o como ingênuos, analfabetos e, dessa forma, podiam ser manipulados facilmente. No geral, as suas descrições sobre a revolta da população que se opõe à campanha de vacinação contra a febre amarela trazem marcas que dão os indícios da construção da profissão de repórter, descrevendo tudo o que estava ao alcance de seus olhos de maneira informativa e opinativa. Bilac, portanto, possui um discurso cívico, e o núcleo do seu texto gira em torno da necessidade de se ter um Rio de Janeiro “civilizado” para, então, poder se modernizar."(3)


   A Falta de informação e manipulação do povo
" Não haviam muitas informações seguras disseminadas sobre a vacina para conhecimento da população. A massa acreditava que a vacinação provocaria um mal terrível contra si, pois além da utilização de agulhas - que era no mínimo olhada com desconfiança - havia a crença, baseada em falsas informações, de que o líquido injetado nas pessoas era uma espécie de suco de ratos. Isso levava a população a crer que eram feitas experiências com seus corpos.
O modo mais comum de amedrontar as pessoas desinformadas era a utilização de bandos de capoeiristas, que eram marginais e vagabundos. Eles (os capoeiristas) destruíam tudo o que encontravam pela frente. Os trabalhadores sequer tinham sossego para poder trabalhar, pois tinham medo do motim e da barbárie armada.
A selvageria tomava conta do Rio de Janeiro, ameaçando o progresso conseguido até então. Na cidade havia um clima de aflição e de horror diante do atentado que a cidade estava sofrendo dos revoltosos.
Os revoltosos queriam derrubar o governo e, para isso, usavam como desculpa e como arma o medo e a desinformação que a população tinha diante da vacina.
Bilac crê que o Brasil poderia perder quinze anos de progresso caso o governo que havia dado melhorias ao país fosse derrubado. O cronista descreve a cidade como uma praça de guerra, e se lembra que havia muito tempo que não havia revoltas na cidade. É mostrado ainda que se o governante não tivesse sido firme, o governo civil não teria resistido.
Talvez nem mesmo os próprios facínoras tivessem conhecimento do que estava acontecendo e, provavelmente, estavam sendo manipulados sem ter consciência disto. Bilac sintetiza em três os elementos que estavam causando desordem:

1. A ambição dos letrados desajuizados.
2. A ferocidade dos vagabundos, que provavelmente eram manipulados sem que tivessem consciência.
3. A ingenuidade dos analfabetos, que eram os menos responsáveis e os que mais sofriam com a situação.

Bilac ataca, no fim de seu texto, o demônio da ambição que envenena a vida e produz maus pensamentos. No último parágrafo da crônica, deseja que a semana da revolta que presenciara seja finda e esquecida tanto quanto as ambições, a ignorância e a maldade consciente. " (2)



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Fontes:

(1)1904 Revolta da Vacina A maior batalha do Rio - http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4204434/4101424/memoria16.pdf

(3)https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4791980.pdf

(2) Olavo Bilac: cronista pré-moderno do Brasil por Francilene Dantas Cruz UnB ( Bibliografia
BILAC, Olavo. Vossa Insolência. Org. de Antônio Dimas. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
BRITO, Mário da Silva. História do Modernismo Brasileiro. Antecedentes da Semana de Arte Moderna. Rio de Janeiro, Civilização Brasileiro, 1971.)
(4) http://www.filologia.org.br/xvii_cnlf/cnlf/05/30.pdf

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