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O Morticínio no Hospital Geral do Estado de Alagoas (HGE)

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Hospital Geral do Estado (HGE)

" Dados do Serviço de Arquivo Médico (Same) do Hospital Geral do Estado (HGE) comprovam as altas taxas. Desde 1989, o AVC está no topo na lista de óbitos; somente no primeiro semestre deste ano, cerca de 200 pacientes já morreram vítimas do problema. Em 2008, o total de óbitos foi de 370 e em 2007, 351 pessoas foram vítimas da doença" . saude.al.gov




Eu jamais consegui entender como o único hospital público a atender emergência médica no Estado de Alagoas,vem ao longo dos anos prestando uma "assistência" a população sem ao menos possuir um protocolo para atendimento dos pacientes e de suas patologias.Cada um trata as diversas doenças como sabe ,e com o que tem!

Algumas semanas atrás,eu li no site do governo que eles " descobriram" que a maior causa de óbitos na Emergência do Hospital desde quando era a antiga Unidade Armando Lages é provocada pelos Acidentes Vasculares Cerebrais ,comumente denominados como derrame.Nada de novidade ,já que a nível de Brasil após os 65 anos de idade,o AVC é a primeira causa de morte e que 80% desses são em decorrência da hipertensão arterial.Triste conclusão já realizada pelo Ministério da Saúde do Brasil , e anteriormente já comentada por esse blog na postagem Não era o meu dia , de 23 de fevereiro de 2008 .

O que é interessante discutir é o aumento da morbi-mortalidade no HGE de Alagoas em função da má qualidade dos serviços ofertados ao povo Alagoano pela instituição.O Blog Alagoas Real, possui sim ,uma outra visão a respeito das causas peculiares ao HGE que contribuem para o aumento dos fatores de risco de morte por AVC no complexo hospitalar Oswaldo Brandão Vilela (HGE de Alagoas).



Temos observado ao longo de aproximadamente 20 anos, que o fato de se ter um Acidente Vascular Cerebral não sentencia o paciente sumariamente a morte quando o mesmo é assistido em outras unidades hospitalares, porém se comporta de forma peculiar e bem diferente quando o assunto é HGE, existindo lá uma exacerbação do risco de morte por AVC, em decorrência das inúmeras complicações que se sucedem ao internamento hospitalar naquela unidade de Saúde,ou seja,o êxito letal é basicamente aflorado por fatores e condições ambientais insalubres que somadas a doença de base agravam ainda mais o estado patológico.Vamos exemplificar o que foi dito para uma melhor compreensão :

Os Pacientes que são internos com quadro de AVC , podem adquirir durante o período hospitalar ,um quadro de infecção Respiratória associada(Pneumonia Hospitalar), principalmente aqueles que se encontram acamados por vários dias e incapacitados de deambular em função de uma ausência motora provocada pelo AVC,ou por uma diminuição da força muscular , que faz com que os mesmos permaneçam um longo período em decúbito dorsal(deitado) , e tal postura contribui assim para uma maior estase de líquidos(secreções) a nível pulmonar .No decorrer da evolução clínica havendo o rebaixamento do nível de consciência, como complicação do AVC ou em função de outras patologias associadas (Distúrbio Hidroeletrolítico,Descompensação diabética,etc) haverá consequentemente diminuição do reflexo protetor da tosse que tem por finalidade a eliminação das secreções das vias aéreas, agravando ainda mais o quadro pulmonar pelo acúmulo progressivo das secreções .

Agora imaginem a situação de um paciente acometido de AVC no HGE ,estando em leitos inadequados onde os seres humanos respiram o ar exalado de outro companheiro de martírio em face a uma proximidade extrema !

Através das gotículas microscópicas liberadas no falar,ao tossir,e ao espirrar, há o carreamento de outras patologias que são facilmente transmitidas inter humanos principalmente pela inalação de diversos patógenos dentre eles as Micobactérias (Tuberculose), vírus (Gripe comum) e no momento atual a possibilidade da gripe suína etc, bactérias (Meningococo causador da Meningite ; pneumococos causador de Pneumonias) e assim por diante em face aos diversos agentes existentes responsáveis por inúmeras patologias.

A ausência de uma assistência da fisioterapia motora e respiratória como rotina em todas as áreas de internamento no HGE,seja por falta de profissionais no quadro hospitalar ,seja por uma falta de estrutura organizacional é somatório para o aumento nas estatísticas letais do AVC.

É muito comum cursar no AVC ,os quadros de insuficiência respiratória que se associam a presença da infecção pulmonar levando a uma redução da oxigenação tecidual generalizada (Hipoxemia) consequentemente com um aumento da PCO2 (Gás Carbônico) que leva na maioria das vezes a uma assistolia(Ausência de batimentos Cardíacos) e ocasionando a morte.Por isso que é importante manter-se uma oxigenação acessória em todos os pacientes acometidos por AVC principalmente quando da admissão na fase aguda no hospital,porém fica dificil se pensar em tal procedimento quando na maioria das vezes o internamento no HGE é feito a nível de corredores onde há falta de pontos de oxigênio .

Os pacientes são deitados em macas que não elevam a cabeçeira , e com isso desfavorece o melhor retorno venoso cerebral além de facilitar as broncoaspirações de conteúdo gástrico principalmente naqueles pacientes que se encontram com um rebaixamento do nível de consciência ou que apresentam ainda disfagia(Dificuldade em deglutir).A presença associada de vômitos em função da Hipertensão intracraniana e da estase gástrica agrava muito mais o quadro existente .

Outras complicações ainda associadas a fase aguda do AVC, podem também advir do nível gástrico com o aparecimento dos grandes sangramentos levando a quadros de profusa hemorragia digestiva alta em função do nível de stress provocado pelo quadro encefálico.

Os péssimos leitos que são ofertados na maioria das vezes aos pacientes fazem com que eles sejam assistidos de forma totalmente inadequada em cadeiras de rodas, no chão,em bancos e em macas ,que por inúmeras vezes já propiciaram várias quedas dos acamados e que provocaram ferimentos corto-contusos ,traumas craniano, fraturas e etc.As comorbidades são inúmeras e de conhecimento de todos.

Vejam que estamos somente fazendo uma pequena abordagem sobre uma única patologia , o AVC.

No dia 28 de agosto de 2009, no site da Gazeta de Alagoas com o título: Idosa de 95 anos agoniza à espera de um leito no HGE , podemos ter mais uma vez a idéia do que é o profundo descaso pela vida humana na instituição.

As fraturas de fêmur são muito comuns em idosos , e ocorrem na maioria das vezes à noite quando eles se dirigem geralmente ao banheiro e escorregam ou tropeçam caindo ao chão. Observando a foto no site da Gazeta nota-se um edema a nível da coxa direita .As complicações caso seja uma fratura de fêmur é considerada grave. O paciente pode apresentar uma dor intensa, escaras de decúbito, embolias pulmonares de origem gordurosa ou não. A perda sanguínea é intensa, já que uma fratura de fêmur mesmo que não apresente nenhuma outra lesão associada o paciente pode perder aproximadamente 1500 ml de sangue, e mais o menos 500 ml de exsudato pelo edema . Espero que a paciente prontamente se restabeleça e saia do martírio que ora passa.Que a paciente tenha muito mais sorte e oportunidade do que teve a Sra Josefa Lima da Silva (Na hora da visita no Hospital Geral do Estado de Alagoas os familiares encontraram o corpo já sem vida da paciente no setor da área azul) Leia as postagens :(O gestor: Responsabilidade do ponto de Vista Legal ou a eficiência do ponto de vista político?) e A Escolha de Sofia: A Cidadania esquecida no HGE de Alagoas

Os nossos pacientes do HGE ,como na maioria dos hospitais do Brasil ,geralmente associado ao seu quadro clínico de AVC,ainda possuem outras patologias de base que se somando agravam ainda mais a sua condição de saúde elevando o risco de morte.São os hipertensos, os renais crônicos, os diabéticos,os hepatopatas,os desnutridos, todos vítimas de um modelo de saúde dos anos 30 totalmente ultrapassado, que perdura até os dias de hoje.O mais triste e grave é saber que tudo isso poderia ter sido evitado, com uma gestão responsável da saúde.


Os pacientes deveriam sim, encontrar-se em unidades de tratamento de AVC ,as quais são formadas por multiprofissionais e com todo suporte de exames complementares, sendo esse ,o melhor local para instituir o protocolo Hospitalar de assistência ao AVC , e com isso, se ter uma melhor preservação da vida daqueles que foram acometidos pelo acidente encefálico.Infelizmente a Unidade de Tratamento de AVC não existe no HGE de Alagoas.




Continuei a leitura no site saude.al.gov e encontrei uma abordagem sobre a avaliação dos gastos com tais pacientes acometidos por AVC:


"Custos para o SUS - Um paciente com AVC custa para o Sistema Único de Saúde (SUS), em média, R$ 6 mil, valor que varia de acordo com a gravidade do caso. O paciente que recupera completamente o déficit neurológico terá necessidade de um período de internação curto (3 a 5 dias), a um custo de aproximadamente R$ 640. Porém, nos casos em que o paciente fica com sequelas graves, o período de internação pode ser de mais de um mês, gerando um custo de R$ 32 mil por paciente". saude.gov.al


Fiquei a meditar e cheguei a conclusão que não se deve simplesmente se apegar ao valor do bem material , no momento representado pelo dinheiro. Não se deve ter em mente somente a visão do quanto vai custar o tratamento do paciente durante o seu período de internação, parecendo até que o mesmo é um fardo inútil a sociedade .Deveríamos então ,avaliar o quanto iremos perder por não termos sido responsável por criar uma política de saúde pública digna e humana, e que em função de nossa falta incapacitamos um cidadão produtivo ao seu país"presenteando-o" com as sequelas motoras advindas do seu quadro neurológico , ou quando mais grave encurtamos sua vida terrena em função de seu óbito.Somos todos responsáveis e devemos não pedir, e sim exigir o fiel cumprimento das leis que regem as políticas públicas de saúde em nosso país em particular no estado federado das Alagoas.

Então como realizar um atendimento satisfatório sem estrutura hospitalar,sem protocolos, com falta de leitos, de materiais permanentes,de medicamentos,com inúmeras comorbidades e deficiência de profissionais ?

No corredor,no chão, como assistir dignamente os pacientes internos, instalando os monitores cardíacos e os oxímetros de pulso ? Como exercer uma medicina digna? Como acreditar que existe o Código de Ética Médica ? Como acreditar na Justiça ?

Enquanto a política for exercida por parlapatões, a Cidadania será apenas um sonho e as perguntas ficarão sem respostas !

É preciso então uma vontade de mudar e não simplesmente encontrar estatísticas a florear um retrocesso humano a aumentar o morticínio de nosso povo.

Mário Augusto

Morticínio:s.m. Morte de muitas pessoas numa mesma ocasião ou lugar, vitimadas pela mesma causa; mortandade.

Conheça um pouco mais o HGE de Alagoas


Leitura para uma boa Gestão na Saúde

Diretrizes para Atendimento Pré-hospitalar no Acidente Vascular Encefálico

Diretrizes Assistenciais do Hospital Sírio-Libanês,protocolo de atendimento ao paciente com AVC
PROTOCOLO DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC). Autora: Dra. Ursula Campos

Implementação da Terapia Trombolítica no Hospital São Lucas da PUCRS e no Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Enfoque passo a passo da OMS para a vigilância de acidentes vascular cerebrais

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